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Perseu Triunfante (detalhe da sandália) - 1797/1801
Antonio Canova - Museu do Vaticano
Imagem do Face Book
"Penso, logo resisto!"
Sandra May |
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domingo, 22 de outubro de 2017
COGITO, ERGO SUM
quinta-feira, 5 de outubro de 2017
A DOIS
Ele chegou em casa ainda era dia claro. Entrou, fechou a porta e não abriu as janelas. Fechou as cortinas e acendeu um abajur.
Estava cansado, exausto, vazio! Olhou o quarto desarrumado havia dias, desanimou ainda mais. Quis morrer, desistir. Lembrou da erva pura guardada no armário, foi até lá, desembrulhou e fez um bom cigarro.
Despiu-se inteiramente, sentou-se nu diante do grande espelho e acendeu o cigarro. O quarto rodou, levitou, virou de cabeça pra baixo e pernas pro ar.
Do armário saíram roupas e mais roupas que desfilavam diante do espelho, atrás do homem que impávido, olhos fixos em si mesmo, pensava nela!
Sentiu um perfume, estremeceu inteiro... era ela, era dela, pra ela, por ela.
Mais um trago no cigarro e ela abraçou-o pelas costas, passou os dedos entre seus cabelos, beijou seus ombros e sussurrou alguma coisa suavemente em seus ouvidos, depois partiu sem que ele sequer percebesse o instante. Um frio percorreu a coluna de cima abaixo, os músculos do ventre se contraíram e ele e quase desmaiou; foram espasmos...
Levantou-se devagar e observou seu corpo no espelho a meia luz do abajur. Estava grávido, inteiramente grávido, absolutamente pleno de vida! Tinha sido ela, tinha sido dela, engravidara dela. Amava e amava tanto, e amava mais ainda...amava-se e amava a ela e respirava por si e respirava por ela.
Não percebeu que a noite já se fazia alta quando deu por si, vestido e animadamente conversando com as flores que dividiam com ele o apartamento. Foi uma longa conversa que só terminou quando ouviu o toque da campainha. Sentiu o coração disparar e temeu a morte que havia desejado.
Seria ela? Tinha certeza, tanta certeza que não olhou pelo visor, abriu a porta sorrindo.
Passados uns segundos ele fechou a porta e deu duas voltas na chave. As outras chaves ficaram oscilando como um pêndulo até que depois de algum tempo voltaram ao estado de repouso.
A empregada da casa tinha visto tudo, mas, discretamente, se recolheu sem dizer palavra.
Sandra May
Inspirado na música "Coisas que eu sei" - Dani Carlos
Postagem original do blog Letras Que Se Movem
MEU AMOR

Fiquei olhando sem entender nada, absolutamente nada. Você foi se distanciando sem que a minha mão pudesse alcançar sequer um penúltimo toque...era a unica esperança que restava, um penúltimo toque.
Procurava em vão o brilho de luz nos olhos que haviam penetrado minha alma, e, que agora, gélidos e desconhecidos, trespassavam meu corpo todo, aos pedaços, machucado. Me tornei uma imensa chaga, exageros do amor, oh! Sim...
Doente, eu precisava da cura que não viria mais de você, porque o meu amor, o meu querido amor já havia partido mesmo antes de me deixar, e eu não percebi. Não haveria o penúltimo, nem tão pouco o ultimo toque; foi pra sempre, adeus!
Sandra May
Inspirado na musica do dia - That Lovin "Feeling" - Bill Madley
U
terça-feira, 19 de setembro de 2017
VIVER É FODA!
Inspirada na musica, "Vamos fazer um filme" - Legião Urbana
Preparou-se pra mais um dia vago e abriu as janelas, quem sabe a liberdade não viria num cavalo alado?
Pégaso passou sorridente oferecendo montaria, ela fingiu não ver, como era de costume e profissão. De tão conformada, Rosa não permitiu que fossem abertas as janelas de sua alma. Optara pela clausura emocional...Viver é foda, morrer é difícil, te ter é uma necessidade; cantou o poeta!
A vida de Rosa, aquela vida árida talvez desse um filme; rude como o agreste, de solo pedregoso e sempre sujeito à seca, como são secas essas minhas palavras!
E hoje em dia, como é que se diz "eu te amo"?
Sandra May
Postagem original do blog, Letras Que Se Movem.
APONTANDO O DEDO

"A culpa pode ser das estrelas, a responsabilidade cabe a nós!"
Sandra May
Inspirado na musica Tema do filme "A culpa é das estrelas"

domingo, 27 de agosto de 2017
MENINA (projeto weda)

De nada adiantaram conselhos, nem supostas boas intenções. O tempo avançava de segundos a anos luz, e, a pesada cruz que a criança tão pequena carregava, era a desculpa pra não chegar a lugar nenhum.
Andava em círculos, esperando alcançar o paraíso. Esperava!
Sandra May
Inspirado na musica "Carolina" - Chico Buarque
Postagem original do blog Letras Que Se Movem
Antes de sair deixe seu comentário, crítica ou sugestão. Você me ajuda a construir este blog, obrigada!
sexta-feira, 25 de agosto de 2017
LAR
A mesa da cozinha era o centro das atenções, lugar da mais alta nobreza da casa. Um lar?
O fogão à lenha aquecia os invernos frios e os corações, e, na cozinha todos se reuniam; mais pelo calor do que por qualquer outra coisa...
Haviam mãos quase sagradas, rudes e amorosas. Mãos que religiosamente aos sábados, e, por mais de cinquenta anos amassaram o pão nosso de cada dia. Dois pães de forma, grandes! Alimentariam quatro crianças, duas mulheres adultas e uma velha senhora por sete dias, mais a quem chegasse pra visita. "Vamo entrando?"
A vida em si era um ritual. A confecção do pão caseiro, porém, o ponto alto da cerimônia.
Farinha, água e fermento eram misturados e amassados pelas mãos cansadas, de dedos tortos pelo muito que trabalhavam.
Salpica farinha e amassa, amassa e sova, e salpica mais farinha e sova mais um pouco, até que como em passe de mágica a massa abre umas fendas que se expandiam vagarosamente. Pareciam pétalas se abrindo em flor! Tinha chegado ao ponto certo, o que era segredo guardado a sete chaves.
A mulher então dava sossego a massa. Gravava com as mãos sobre ela uma cruz como que abençoando e deixava descansar por um bom tempo. Jamais respondeu ao " por que tem que fazer a cruz ?", desconversava...
Um gato que raramente dava as caras surgia do nada, era quando as crianças se aproveitavam pra puxar-lhe o rabo. O gato disparava em fuga fazendo jus ao nome de batismo: "Foguete".
As mãos quase sagradas matavam galinha pro almoço dominical e entre as crianças saía briga quando as galinhas cacarejavam, sinal que haviam posto ovos. É a minha vez, é a minha vez!!!
As mãos da mulher, aquelas mãos quase sagradas, alimentavam todos os animais do terreiro; os coelhos, os porcos, a cabra e o cachorro; único que escapava do sacrifício, em ocasiões especias; Natal, Páscoa e domingos, ocasiões propícias à degola.
Às vezes, raramente, Maria ia a missa. Tinha muito o que cuidar!
As mãos dela trabalhavam incansavelmente e como autômatas, uma vez ou outra levantavam o avental que ela usava sempre, sempre, sempre, e, com a ponta enxugava uma lágrima no canto de um olho, depois do outro. Seriam lágrimas, seria a fumaça do fogão à lenha ou seria um cisco? Não soluçava a mulher...
Quando Maria pegava um recém nascido ao colo, sorria. Só então, ela que nunca tivera filhos, sorria. Naqueles momentos deixava transparecer um brilho novo no olhar. Felicidade? Ninguém soube dizer.
Morreu Maria, o fogão é â gaz e pão nosso, de padaria.
Sandra May
Publicação original do blog Letras Que Se Movem
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O fogão à lenha aquecia os invernos frios e os corações, e, na cozinha todos se reuniam; mais pelo calor do que por qualquer outra coisa...
Haviam mãos quase sagradas, rudes e amorosas. Mãos que religiosamente aos sábados, e, por mais de cinquenta anos amassaram o pão nosso de cada dia. Dois pães de forma, grandes! Alimentariam quatro crianças, duas mulheres adultas e uma velha senhora por sete dias, mais a quem chegasse pra visita. "Vamo entrando?"
A vida em si era um ritual. A confecção do pão caseiro, porém, o ponto alto da cerimônia.
Farinha, água e fermento eram misturados e amassados pelas mãos cansadas, de dedos tortos pelo muito que trabalhavam.
Salpica farinha e amassa, amassa e sova, e salpica mais farinha e sova mais um pouco, até que como em passe de mágica a massa abre umas fendas que se expandiam vagarosamente. Pareciam pétalas se abrindo em flor! Tinha chegado ao ponto certo, o que era segredo guardado a sete chaves.
A mulher então dava sossego a massa. Gravava com as mãos sobre ela uma cruz como que abençoando e deixava descansar por um bom tempo. Jamais respondeu ao " por que tem que fazer a cruz ?", desconversava...
Um gato que raramente dava as caras surgia do nada, era quando as crianças se aproveitavam pra puxar-lhe o rabo. O gato disparava em fuga fazendo jus ao nome de batismo: "Foguete".
As mãos quase sagradas matavam galinha pro almoço dominical e entre as crianças saía briga quando as galinhas cacarejavam, sinal que haviam posto ovos. É a minha vez, é a minha vez!!!
As mãos da mulher, aquelas mãos quase sagradas, alimentavam todos os animais do terreiro; os coelhos, os porcos, a cabra e o cachorro; único que escapava do sacrifício, em ocasiões especias; Natal, Páscoa e domingos, ocasiões propícias à degola.
Às vezes, raramente, Maria ia a missa. Tinha muito o que cuidar!
As mãos dela trabalhavam incansavelmente e como autômatas, uma vez ou outra levantavam o avental que ela usava sempre, sempre, sempre, e, com a ponta enxugava uma lágrima no canto de um olho, depois do outro. Seriam lágrimas, seria a fumaça do fogão à lenha ou seria um cisco? Não soluçava a mulher...
Quando Maria pegava um recém nascido ao colo, sorria. Só então, ela que nunca tivera filhos, sorria. Naqueles momentos deixava transparecer um brilho novo no olhar. Felicidade? Ninguém soube dizer.
Morreu Maria, o fogão é â gaz e pão nosso, de padaria.
Sandra May
Publicação original do blog Letras Que Se Movem
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sexta-feira, 23 de junho de 2017
PONTO DE CRUZ
A rua não era calçada e nem era necessário que fosse, não passavam carros com frequência, e, nem havia linha de ônibus no bairro. Carros mesmo, somente no final do ano quando chegavam "os veranistas," e, mesmo assim eram raros.
Seu Joaquim, uma vez a cada quinze dias subia a rua de barro, montado no seu cavalinho malhado, que tinha por nome, "trovoada." Vinha fazer serviços para a avó de Letícia, e, chegava à casa pela rampa por onde em tempos próximos passados desciam as charretes do avô da menina, já então falecido.
No mais, era quase sempre silêncio na rua mal iluminada à noite, e, vez em quando o apito do guarda noturno soava...
Às 7:00 horas a fábrica apitava, às 14:00 também, tornava a apitar às 18:00, e, finalmente às 22:00 horas.
Letícia sentia medo sempre, muito medo, mas não sabia exatamente de que ou de quem. Mal dormia, mal acordava, mal comia! Sentia-se em um outro universo e vivia à deriva.
Marmita ela nunca tinha visto... e, quando Seu Joaquim entregava aquele embrulho feito com pano de prato xadrez pra "vó," Letícia acompanhava com muita curiosidade o processo de desembrulhar, esquentar a marmita e, finalmente, Seu Joaquim sentar no chão pra comer; não sem antes tirar o chapéu.
A avó quando via a menina parada dizia: " O que que tá espiando?" Era isso! Letícia não olhava pra nada, mas espiava tudo...queria saber de tudo, de todas as coisas. Procurava algum sentido pra vida!
Letícia tinha sempre os joelhos ralados de tanto que caía, mas sempre se levantava. Já tinha visto seus coelhinhos brancos, de olhos vermelhos, crescerem para depois serem erguidos pelas orelhas e abatidos por duas ou três pauladas. Tinha visto também a última vaca ir embora...não sabia pra onde mas teve um pressentimento que boa coisa não podia ser... Moeda, a última vaca!
Ralou de novo os joelhos e muitas outras vezes, sucessivamente.
Os dias se arrastavam entre dias frios e chuva fina, era inverno. Dias quentes e chuvas grossas, trovejava, era verão!
Uma jabuticabeira carregadinha de frutas cor de berinjela ...a menina subia na árvore e passava horas comendo jabuticabas e falando com os passarinhos, que, com ela compartilhavam do banquete dos deuses. Estavam acima de tudo, acima de qualquer maldade!
Verão, raios no céu, sol brilhando, dias amenos, noites sem cobertores, limonada, chuvarada e "os veranistas" subindo...
Quem pode faz o preço, quem precisa concorda!
Letícia chorou por muito tempo, teve crises nervosas e sentiu raiva das pessoas. Odiou a vida, não perdoou nada e ninguém, nem a si mesma, pela sua impotência diante do inevitável. Quase perdeu a fé em Deus, o que mais tarde acabou por acontecer.
Precisava tomar uma decisão, e, tomou a única possível: entrou na cratera oca e se deixou ficar por tanto tempo que criou raízes, e cresceu frondosa, e acolheu os passarinhos que nela fizeram seus ninhos. Tanta convivência assim com a natureza, acabou que fez as pazes com Deus
Muito tempo se passou, mas sabe-se que Dona Letícia ainda abriga ninhos e continua falando com os passarinhos e eles cantam pra ela e ela sorri pra eles.
Dizem, e, concordo com o que dizem, e, da maneira como dizem, que: "Dona Letícia tem problemas de cabeça rs rs"!
Sandra May
Obs: Contaram-me que a avó de Letícia, em um dos verões, teria vendido a jabuticabeira onde a criança se refugiava. Adivinha o comprador? Um veranista!
Seu Joaquim, uma vez a cada quinze dias subia a rua de barro, montado no seu cavalinho malhado, que tinha por nome, "trovoada." Vinha fazer serviços para a avó de Letícia, e, chegava à casa pela rampa por onde em tempos próximos passados desciam as charretes do avô da menina, já então falecido.
No mais, era quase sempre silêncio na rua mal iluminada à noite, e, vez em quando o apito do guarda noturno soava...
Às 7:00 horas a fábrica apitava, às 14:00 também, tornava a apitar às 18:00, e, finalmente às 22:00 horas.
Letícia sentia medo sempre, muito medo, mas não sabia exatamente de que ou de quem. Mal dormia, mal acordava, mal comia! Sentia-se em um outro universo e vivia à deriva.
Marmita ela nunca tinha visto... e, quando Seu Joaquim entregava aquele embrulho feito com pano de prato xadrez pra "vó," Letícia acompanhava com muita curiosidade o processo de desembrulhar, esquentar a marmita e, finalmente, Seu Joaquim sentar no chão pra comer; não sem antes tirar o chapéu.
A avó quando via a menina parada dizia: " O que que tá espiando?" Era isso! Letícia não olhava pra nada, mas espiava tudo...queria saber de tudo, de todas as coisas. Procurava algum sentido pra vida!
Letícia tinha sempre os joelhos ralados de tanto que caía, mas sempre se levantava. Já tinha visto seus coelhinhos brancos, de olhos vermelhos, crescerem para depois serem erguidos pelas orelhas e abatidos por duas ou três pauladas. Tinha visto também a última vaca ir embora...não sabia pra onde mas teve um pressentimento que boa coisa não podia ser... Moeda, a última vaca!
Ralou de novo os joelhos e muitas outras vezes, sucessivamente.
Os dias se arrastavam entre dias frios e chuva fina, era inverno. Dias quentes e chuvas grossas, trovejava, era verão!
Uma jabuticabeira carregadinha de frutas cor de berinjela ...a menina subia na árvore e passava horas comendo jabuticabas e falando com os passarinhos, que, com ela compartilhavam do banquete dos deuses. Estavam acima de tudo, acima de qualquer maldade!
Verão, raios no céu, sol brilhando, dias amenos, noites sem cobertores, limonada, chuvarada e "os veranistas" subindo...
Quem pode faz o preço, quem precisa concorda!
Letícia chorou por muito tempo, teve crises nervosas e sentiu raiva das pessoas. Odiou a vida, não perdoou nada e ninguém, nem a si mesma, pela sua impotência diante do inevitável. Quase perdeu a fé em Deus, o que mais tarde acabou por acontecer.
Precisava tomar uma decisão, e, tomou a única possível: entrou na cratera oca e se deixou ficar por tanto tempo que criou raízes, e cresceu frondosa, e acolheu os passarinhos que nela fizeram seus ninhos. Tanta convivência assim com a natureza, acabou que fez as pazes com Deus
Muito tempo se passou, mas sabe-se que Dona Letícia ainda abriga ninhos e continua falando com os passarinhos e eles cantam pra ela e ela sorri pra eles.
Dizem, e, concordo com o que dizem, e, da maneira como dizem, que: "Dona Letícia tem problemas de cabeça rs rs"!
Sandra May
Obs: Contaram-me que a avó de Letícia, em um dos verões, teria vendido a jabuticabeira onde a criança se refugiava. Adivinha o comprador? Um veranista!
terça-feira, 25 de abril de 2017
SEM PRESSA

Andei tão apressada que perdi o melhor da paisagem.
Hoje, tendo atravessado a maior parte do meu caminho, reduzi a marcha. Sento muitas vezes no meio do dia à sombra do grande ipê cor-de-rosa, e, me coloco simplesmente no papel que me cabe; Ser feliz!
Sandra May
Postagem original do blog Letras Que Se Movem
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