As letras formamum código secreto As letras são o meu dialeto Meu mapa Plano de fuga rumo à liberdade de ser eu mesma As letras são meu chão e meu teto Perfeito equilíbrio em ângulo reto. Sandra May
...E Satanás ocupou ilegitimamente o trono do rei, para que fosse testado todo o povo que se dizia incorruptível e abominava a corrupção. Ai de nós! Sandra May
"A flor e o asfalto" foi inspirado no poema de Carlos Drummond de Andrade, "A flor e a náusea," uma proposta para a blogagem coletiva do grupo "Confraria dos blogueiros escritores".
Ele chegou em casa ainda era dia claro. Entrou, fechou a porta e não abriu as janelas. Fechou as cortinas e acendeu um abajur. Estava cansado, exausto, vazio! Olhou o quarto desarrumado havia dias, desanimou ainda mais. Quis morrer, desistir. Lembrou da erva pura guardada no armário, foi até lá, desembrulhou e fez um bom cigarro. Despiu-se inteiramente, sentou-se nu diante do grande espelho e acendeu o cigarro. O quarto rodou, levitou, virou de cabeça pra baixo e pernas pro ar. Do armário saíram roupas e mais roupas que desfilavam diante do espelho, atrás do homem que impávido, olhos fixos em si mesmo, pensava nela! Sentiu um perfume, estremeceu inteiro... era ela, era dela, pra ela, por ela. Mais um trago no cigarro e ela abraçou-o pelas costas, passou os dedos entre seus cabelos, beijou seus ombros e sussurrou alguma coisa suavemente em seus ouvidos, depois partiu sem que ele sequer percebesse o instante. Um frio percorreu a coluna de cima abaixo, os músculos do ventre se contraíram e ele e quase desmaiou; foram espasmos... Levantou-se devagar e observou seu corpo no espelho a meia luz do abajur. Estava grávido, inteiramente grávido, absolutamente pleno de vida! Tinha sido ela, tinha sido dela, engravidara dela. Amava e amava tanto, e amava mais ainda...amava-se e amava a ela e respirava por si e respirava por ela. Não percebeu que a noite já se fazia alta quando deu por si, vestido e animadamente conversando com as flores que dividiam com ele o apartamento. Foi uma longa conversa que só terminou quando ouviu o toque da campainha. Sentiu o coração disparar e temeu a morte que havia desejado. Seria ela? Tinha certeza, tanta certeza que não olhou pelo visor, abriu a porta sorrindo. Passados uns segundos ele fechou a porta e deu duas voltas na chave. As outras chaves ficaram oscilando como um pêndulo até que depois de algum tempo voltaram ao estado de repouso. A empregada da casa tinha visto tudo, mas, discretamente, se recolheu sem dizer palavra. Sandra May
Inspirado na música "Coisas que eu sei" - Dani Carlos
Fiquei olhando sem entender nada, absolutamente nada. Você foi se distanciando sem que a minha mão pudesse alcançar sequer um penúltimo toque...era a unica esperança que restava, um penúltimo toque.
Procurava em vão o brilho de luz nos olhos que haviam penetrado minha alma, e, que agora, gélidos e desconhecidos, trespassavam meu corpo todo, aos pedaços, machucado. Me tornei uma imensa chaga, exageros do amor, oh! Sim...
Doente, eu precisava da cura que não viria mais de você, porque o meu amor, o meu querido amor já havia partido mesmo antes de me deixar, e eu não percebi. Não haveria o penúltimo, nem tão pouco o ultimo toque; foi pra sempre, adeus!
Sandra May
Inspirado na musica do dia - That Lovin "Feeling" - Bill Madley